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TEMA: Mundo

Eu sou Charlie

Tão terrível - e de igual repercussão - como o monstruoso atentado às Torres Gêmeas, nos Estados Unidos, em 11 de setembro de 2001, foi o covarde ataque em 7 de janeiro de 2015 à redação do jornal Charlie Hebdo, em Paris, com o assassinato de 8 jornalistas.

 

A ação em Paris foi perpetrada pelos irmãos Kouachi, Chérif de 32 anos e Saïd de 34 anos, ambos de ascendência argelina, mas de nacionalidade francesa. Eles foram mortos 54 horas depois, em uma gráfica em que se refugiaram a 80 quilômetros da capital francesa.

Na mesma ocasião, uma policial e 4 reféns membros da comunidade judaica foram mortos por Amedy Coulibally, um terceiro fanático islamista que também foi morto pela polícia.

 

Embora seja incomparável entre si o numero de vítimas que os dois atentados provocaram nos Estados Unidos e na França, certamente o motivo de a agressão ao jornal ter arregimentado cerca de 4 milhões de pessoas no ato de protesto e solidariedade foi o alvo que os terroristas, desta vez, lograram atingir: a liberdade de pensamento e de livre manifestação, instituição tão cara à civilização ocidental.

 

Os dois atentados tiveram a mesma inspiração e ação: o fundamentalismo de facções fanáticas islâmicas que veem no Ocidente infiéis e inimigos de seu Deus Allah.

 

Embora o mundo civilizado condene esse brutal atentado contra a livre manifestação de pensamento, algumas vozes, quase isoladas, e sem endossar o assassinato, provocam reflexão sobre a total liberdade que se deva ter, ou não, de manifestações e expressões quando estas venham a ferir ícones considerados sagrados para alguns povos.

 

O então presidente francês Jacques Chirac, em 2006, manifestou sua total discordância em relação aos cartoons blasfemos sobre Maomé publicados pelo mesmo Charlie Hebdo: “Condeno todas as provocações que alimentam paixões perigosas. Tudo que pode ferir as convicções de outros, especialmente convicções religiosas deve ser evitado. E completou: “A liberdade de expressão deve ser exercida com responsabilidade”.

 

O próprio Papa Francisco, que tem se revelado um importante mensageiro da paz, disse a propósito do terrível acontecimento, entre outras coisas, “Matar em nome de Deus é uma aberração, mas a liberdade de expressão não dá o direito de insultar a fé do próximo”.

 

Ainda sobre o instigante tema, a condessa de Ségur, famosa escritora russa, sintetiza: “A liberdade é mais vezes destruída pelos seus excessos do que por seus inimigos”.

 

Por outro lado, é sabido que nenhuma religião nem nenhum livro chamado sagrado permite ou induz levar à morte qualquer semelhante, em qualquer situação ou circunstância.

 

Assim, importantes representantes da religião islâmica pregam que o Alcorão defende a vida, a solidariedade e a compaixão.

 

Mas a interpretação distorcida do Alcorão resultou em vários atentados terroristas que afligem o mundo civilizado, como os perpetrados contra as Torres Gêmeas e o Charlie Hebdo.

 

Por outro lado, há que se registrar que na França já existe uma campanha antimuçulmana, que muito provavelmente, e rapidamente, se intensificará após o atentado em Paris.

 

O atentado ao Charlie Hebdo instiga também a xenofobia exercida contra imigrantes asiáticos, africanos e árabes, islâmicos ou não, enfim, “não europeus

 

Esse é mais um triste capítulo da história da humanidade, principalmente porque, ironicamente, ele se desenrolou no palco de um país que tem por lema, para conduzir seus destinos, a liberdade, a igualdade e a fraternidade.

 

Infelizmente nada prevê que o ataque e a retaliação tenham servido de exemplo para a reflexão e, se não a aproximação dos litigantes, pelo menos minimizar os ataques e as represálias.

 

Assim é que grupos islâmicos de vários países protestaram contra a capa na nova edição do Charlie Hebdo que chegou ao impressionante numero de 6 milhões de exemplares, esgotando-se em pouco tempo. No desenho aparece o profeta Maomé chorando embaixo da frase “tudo está perdoado”, segurando um cartaz no qual se lê “eu sou Charlie”.

 

Tudo indica que, em virtude dos desentendimentos que persistem, deverá se reservar mais perdão para o futuro, lembrando as indulgências concedidas pelos papas, na Idade Média, para antecipar perdão a futuros pecados dos reis e poderosos de então. Haja indulgências!

 

Muita coisa se fez e se faz, em nome de Deus, mas sem o seu aval.

 

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